Mais de dois terços das calçadas têm obstáculos. Falta de fiscalização e abandono do espaço público expõem pedestres ao risco diário.
Em Foz do Iguaçu, caminhar pelas calçadas virou um teste de resistência. De acordo com o Censo Demográfico de 2022, divulgado pelo IBGE, nada menos que 67,3% das calçadas da cidade estão comprometidas por obstáculos — índice que coloca o município na pior posição entre os dez mais populosos do Paraná.
Buracos, arbustos, desníveis e até postes mal posicionados são parte da paisagem que desafia diariamente pedestres, especialmente idosos, pessoas com deficiência e pais com carrinhos de bebê. A precariedade é ainda mais alarmante diante do fato de que 92% da população vive em ruas com calçadas — e apenas uma minoria conta com condições adequadas para circular.
Enquanto a média estadual de calçadas com obstáculos é de 61,3%, Foz ultrapassa essa marca com folga. Curitiba, por exemplo, registra 62,1%.
Dados ignorados, cidadãos em risco
O levantamento mostra que mais de 24 mil idosos e 12 mil crianças de até 4 anos residem justamente em áreas com calçadas obstruídas — um dado que deveria acender um alerta vermelho nas autoridades. Em vez disso, o problema é tratado como responsabilidade exclusiva dos cidadãos, deixando a fiscalização frouxa e a infraestrutura pública abandonada.
Embora a prefeitura afirme que a manutenção das calçadas é dever dos proprietários, falta uma política pública eficiente de incentivo, fiscalização e execução. A Lei Municipal nº 3.144/2025, que define padrões para os passeios, tem sido mais uma diretriz esquecida do que aplicada. A ausência de acessibilidade é ainda mais contraditória diante do crescimento da população idosa e da tendência de envelhecimento nacional.
Rampas sem serventia
Outro dado que evidencia o descaso é a baixa cobertura de rampas de acesso: apenas 37,4% das vias de Foz contam com esse item básico de acessibilidade. Mesmo quando há rampas, elas muitas vezes estão em calçadas tão esburacadas que se tornam inutilizáveis. O contraste com cidades como Maringá — que tem 77,3% de cobertura — mostra o quanto Foz ficou para trás.
Soluções que não chegam
A prefeitura informou ao H2FOZ que a fiscalização será intensificada, por determinação do prefeito Joaquim Silva e Luna. No entanto, sem prazos claros, investimentos concretos ou campanhas educativas abrangentes, a promessa soa como mais uma resposta protocolar diante de um problema crônico.
Enquanto isso, a cidade turística que atrai visitantes do mundo inteiro deixa seus próprios moradores — especialmente os mais vulneráveis — à mercê da omissão e do abandono.
Denuncie
Irregularidades em calçadas podem (e devem) ser denunciadas pelo aplicativo ou site eOuve, com fotos que ajudem na localização do imóvel. O telefone 156 também está disponível para registrar reclamações.