O reservatório como capital natural: a base viva da energia de Itaipu

Foto de Edino Krug/Itaipu Binacional

Mais que estrutura operacional, o “lago” da usina é um ativo ambiental estratégico, mantido por ações de conservação, reflorestamento e vigilância permanente da bacia hidrográfica.

A potência de Itaipu começa antes das turbinas — começa na água. O reservatório da usina, com seus 1.350 km² de superfície, é muito mais do que um corpo hídrico acumulado para gerar energia: é um sistema vivo, interligado a uma bacia hidrográfica de mais de 820 mil km², que se estende por três países (Brasil, Paraguai e Argentina) e afeta direta ou indiretamente a vida de mais de 30 milhões de pessoas.

Formado em 1982, o “Lago de Itaipu” é hoje o sexto maior reservatório artificial do Brasil – pequeno, quando se leva em conta sua capacidade produtiva. Com cerca de 170 km de comprimento, ele funciona como pulmão hídrico do sistema de geração, garantindo regularidade mesmo em períodos de estiagem prolongada.
Essa estabilidade, no entanto, depende da conservação da Bacia do Paraná 3, composta por centenas de microbacias e subafluentes. Cada nascente, cada mata ciliar, cada lavoura manejada com cuidado contribui para manter o reservatório em condições adequadas de volume, qualidade e produtividade energética.

Água boa começa na terra
Desde os anos 2000, Itaipu vem tratando o reservatório não como um fim, mas como um elo de um ciclo que começa muito antes — no solo. A percepção de que a geração de energia depende de práticas sustentáveis no uso da terra levou à criação de diversos programas de Gestão por Bacias Hidrográficas e investimentos em reflorestamento, saneamento rural e manejo do uso agrícola.

Atualmente, mais de 1.300 microbacias são monitoradas nos dois lados da fronteira. Em áreas prioritárias, a usina investe na recuperação de nascentes, contenção de erosão, proteção de matas nativas, recomposição de matas ciliares e capacitação de produtores para adoção de sistemas conservacionistas. Os resultados são visíveis: a redução da carga de sedimentos, a diminuição do assoreamento do lago e a melhoria na qualidade da água utilizada para a geração.

Itaipu apoiou o plantio de mais de 24 milhões de árvores nativas, formando corredores ecológicos e cinturões verdes que protegem margens, regulam o microclima e sustentam a biodiversidade local. Essa vegetação também atua como barreira natural contra pesticidas e contaminantes.

Um reservatório produtivo e preservado

Ao contrário de outros grandes lagos artificiais, o reservatório de Itaipu não se tornou uma paisagem estéril. Ele é ambiente de pesquisa, recreação, subsistência e conservação. Pesquisadores de universidades brasileiras e paraguaias utilizam o lago para estudos limnológicos, ictiológicos e climáticos. A pesca artesanal, regulamentada e assistida, garante sustento a centenas de famílias. Em trechos específicos, há atividades de lazer, esportes náuticos e turismo ecológico servindo às comunidades do seu entorno.

Além disso, o lago serve como barreira natural contra queimadas e como regulador térmico da região. Sua manutenção exige vigilância constante: estação hidrometeorológica, sensores de qualidade da água, drones e monitoramento via satélite formam a rede que acompanha dia e noite as condições do espelho d’água.

A água como ativo estratégico

Ao tratar seu reservatório como capital natural, Itaipu assume um papel que transcende a engenharia: o de gestora de um patrimônio ambiental e geopolítico de valor incalculável. Em um mundo onde a água doce torna-se escassa e motivo de disputa, a proteção da bacia do Paraná é também um ato de segurança regional.
A energia produzida em Itaipu começa na chuva que cai sobre a floresta, no curso de um riacho limpo, na preservação de um lençol freático. Ao reconhecer isso, a usina reafirma seu compromisso com um modelo de desenvolvimento onde natureza e tecnologia coexistem — não por idealismo, mas por estratégia.

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